domingo, 17 de março de 2013

OS CONTERRANOS EM SÃO PAULO


OS CONTERRANOS
EM SÃO PAULO
1
Por  sofrer, o Conterrano
                               Nas agruras do sertão
                               De Minas ao Ceará
Da Bahia ao Maranhão
De tanto ser abandonado
Deixa ser lar e seu estado
E se arriba do seu chão
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O rico Estado de São Paulo
Sempre foi natural destino
De Brasileiros e estrangeiros
Homem, mulher e menino
Terra de oportunidades
De emprego nas cidades
Qualidade de vida, e de ensino
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A gente chega em São Paulo
De todos os brasileiros
Que acolhe os Nordestinos
E também os estrangeiros
Esta terra abençoada
Também é a nossa Terra Amada
Do nosso povo guerreiro.
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Já à muito mais de cem anos
Ocorre esta Imigração
Conterrânos obrigados
A deixar seu próprio chão
Criando novas raízes
Muitos casam e são felizes
De geração em geração
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Muitos Conterranos chegam
Meio as dificuldades
Pouco dinheiro no bolso
E muita força de vontade
E pra pousar, ter moradias
Acabam nas Periferias
Das mais diversas cidades
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A gente já chega perdendo
Na Sociedade paulista
Sendo rico ou sendo pobre
Sendo operário ou artista
Tendo que se colocar
E encontrar nosso lugar
Numa sociedade exclusivista
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Desde cedo a gente nota
Como é dura a Realidade
Quando procuramos emprego
Em qualquer atividade.
Vem a Discriminação
O Desrespeito e a Exploração
Em cada canto da cidade
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Sem as oportunidades
No emprego e no Ensino,
Muitos pra sobreviver
Tem um emprego clandestino
Só com muita inteligência
Sorte, estudo e paciência
Sobrevivem os Nordestinos
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Como fossemos Refugiados,
Imigrantes ilegais
Nós somos desrespeitados
Clandestinos Raciais.
Em nosso próprio País,
Sem nossos Direitos Civis
Sociais e culturais
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Muitos passam a vida inteira
Sem nunca ter onde morar
Presos nas garras do aluguel
Todos fingem não notar
A nossa gente nordestina
Numa sociedade assassina
Sem um teto e, sem um lar
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Por mais que a gente trabalha
E tem fé em Deus láno ceu
Comprar uma casa ou um barraco
É mais amargo do que fél...
Como sofre humilhação,
Nosso Povo do Sertão,
Na Periferia e no Aluguel!
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Quase toda a população
Que vive nas Comunidades
De áreas livre e favelas
Em todos os bairros e cidade
É formada por nossa gente
Tão humilhada e tão carente
Longe das autoridades
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Essa é a dura Realidade
Não adianta negar
Por orgulho ou vaidade
Nos iludir, nos enganar
Poucos vivem na fartura
Pra maioria é só desventura
E o desejo de voltar
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Nós não queremos Esmolas
E nem Assistencialismo
Só Queremos Nossos Direitos
Exercer nosso Civismo
Direito à Cidadania
Ensino, Trabalho, Moradia
Sem Oxentefobia ou Racismo
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Parecemos, em São Paulo
Refugiados e estrangeiros
Imigrantes, ilegais,
Um povo sem paradeiro
Tamanha é a xenofobia,
A Conterranofobia
Com o Nordestino Brasileiro
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Há preconceito de Raça
Aos Conterrânos e Nordestinos
Por sermos caboclos, afroíndios
Sangue índio, afro, ou latino
Por nossa Conterranidade
Nossa Racialidade
De Marias e Severinos
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Nos sentimos em um Sistema
De Apartheid Cultural
Trabalhadores explorados
Preconceito Social
Por Sindicatos e pelo Estado
Só somos considerados
Como Trabalhador Braçal
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Como é dura a vida
Do nosso trabalhador!
Operário de construção
Boia-fria, carregador,
Vítima de exploração
Da baixa remuneração
Do Empresário e do Doutor
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As Trabalhadoras nordestinas
Conterrânas do sertão
São as mulheres que mais sofrem
Racismo e exploração
Em senzalas residenciais
Sofrendo nas áreas rurais
Na Social Escravidão
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Se não houvesse o Racismo
A tal Oxentefobia,
Os Conterrâneos em São Paulo
Teriam mais alegria
Se as oportunidades
Fossem iguais pela cidade
O nosso povo não sofria
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Sob Novos Dominantes
Novos Colonizadores
A Prole herdeira e racista
Dos Antigos Opressores
GANANCIOSOS GLOBALISTAS
Felizes Futebolistas
Nossos novos Predadores
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O semblante do meu rosto
É o meu puro lamento
Retrata minha tristeza
Estampa meu sofrimento
De ser excluído nesta terra
Onde a gente sofre, se ferra
Sem nunca ter um alento
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Fui trazido por meus pais
Quando ainda era um menino
Favela, e Periferia,
Foi nosso duro destino
Apesar das cicatrizes
Nunca perdi Minhas Raízes
De CONTERRANO, Nordestino
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Nunca tive Instrução
Didática, Escolar,
Não tive oportunidades
Para poder estudar
Sem escola, sem ensino
Como muitos nordestinos,
No Mundo fui me formar
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Não tive Escola, Faculdade
Mas eu já me Doutorei
Não tenho Diploma de Poeta
Mas em POÉTICA, me formei
A minha escola querida
É a Universidade da VIDA
Onde eu sempre estudei
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Me instruí por mim mesmo
Com esforço e dedicação
Lendo as páginas da vida
Adquiri Instrução
Profissional e Cultural
Poética, Intelectual,
Para honrar nosso Sertão
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Dezesseis anos de Favela
Sonhando em vencer um dia
Dezoito anos no Aluguel
Sem ter digna moradia
Mal ganho para meu pão
Não pude comprar meu Chão
No Exílio da Periferia
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Hoje não sou analfabeto
Porque sou inteligente
Sou Autodidata e Poeta
Um Conterrâno Consciente
Enquanto eu tiver alento
Poesia no pensamento
Vou defender minha gente
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Vou ensinar o Conterranismo
Expor o Nosso Ideal
Buscar Justiça e Igualdade
Social e Cultural
Orientar meus irmãos
A ter Ideologia, e união
Em um plano nacional
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Os nossos Trabalhadores
Seriam mais respeitados
                                     Os Artistas Forrozeiros
                                     Não seriam mais humilhados
Com a união da nossa gente
Numa grande Sociedade Oxente
Em cada cidade, e em cada estado
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Não basta nos aliarmos
A candidatos ou Partidos
Sermos cabos eleitorais
De políticos conhecidos
Que mesmo tendo boa vontade
Não tem Conterranidade
E não são os nossos escolhidos
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Só nossa gente conhece
Nossa luta e nossa dor
A Sêca, a Fome, a Roça
O nosso Grande valor
Para nos representar
Vamos aprender a votar
No Conterrâno Lutador
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Entre os Povos Brasileiros
Deve haver Democracia
Igualdade e Respeito
Sem a infame xenofobia
Mas no Brasil predomina
A Sistemática assassina
Da Conterranofobia
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Não há Cultura mais rica
Que a Cultura do Sertão
Da Caatinga, do Cangaço
Do Folclore e o Artesão
Do Aboio do Vaqueiro
Repente e viola e pandeiro
Poesia, rima e canção
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Festa do Bumba-Meu-Boi
A Festa de São João
Literatura de Cordel
A Tapioca e o Requeijão
Rapadura, Farinha, Buchada
O “Velho Chico,” a Vaquejada
Forró, Xaxado e Baião
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FORRÓ, não é ritmo ou estilo
É o nosso Complexo Musical
Que vai do Forró Moderno
Ao Forró Tradicional
Forró Pé-de-Serra, Tecladistas,
Trios, Bandas e Artistas,
Nosso orgulho nacional
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Cada Cultura em São Paulo
Tem a sua Identidade
O seu espaço na Mídia
Nos Calendários das cidades
Tem Representantes Políticos
E os seus Costumes Típicos
Numa grande Diversidade
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No Espaço Sociocultural
Entre os Povos Paulistanos:
Caipiras ou Nordestinos;
Gays, Afros, Italianos;
Na divisão cultural,
Ou na divisão social,
Quem perde são os Conterrânos
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Como podemos crescer,
Dentro da Sociedade,
Se no Sociocultural
Impedem nossa mobilidade?
Sem ascensão social,
Vítimas de um antigo mal:
A Antinordestinidade
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A nossa Cultura Oxente
Ou “Cultura nordestina”
Na Imprensa ou Mídia paulista
Sofre uma triste sina:
Ela é discriminada
Excluída e Segregada
Por uma Malta ferina
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O preconceito ao Forró
Gera Exclusão cultural
Vergonhosa “forrófobia”
A nosso Complexo musical
Não fosse a OXENTEFOBIA
O Forró hoje estaria
Em toda Mídia nacional
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Contra o Forró, o preconceito
É explícito e sem pudor
Contra o Músico Forrozeiro
O Empresário, o Produtor.
Sem Rádios e Televisão
Forródromos, Centros de Tradição
Para exaltar o nosso valor
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Fora das grandes emissoras
De Rádio e Televisão,
Radialistas, Apresentadores
Sofrem discriminação.
Competentes profissionais
Jornalistas, Intelectuais,
Vítimas de Segregação
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Nas tais “Grandes Emissoras”
Só a Rádio Imprensa é exceção
Das Senzalas Do do Dia a Dia
Do Rádio e da Televisão
De uma Mídia Corporativa
Anti-forrozeira e nociva
Para a Cultura do Sertão
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Só resta a Mídia Alternativa
Para a Cultura do Sertão
Nossas Rádios Comunitárias
Sofrendo perseguição
Pois Somos todos perseguidos
Desrespeitados, e excluídos
Dos Meios de Comunicação
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Como é dura a vida
Do Profissional Forrozeiro!
Marcado por um Sistema
Perseguidor e rasteiro
Que oprime e discrimina
A Cultura Nordestina
De todos os Brasileiros
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É como se houvesse uma “Lei”
Camuflada CONSPIRAÇÃO
Impedindo os Forrozeiros
De aparecer na televisão
Deixo um desafio marcado:
PROVEM QUE ESTOU ERRADO,
QUE NÃO EXISTE A EXCLUSÃO !
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O nosso Povo, humilhado
Na busca por solução
Se humilha a Não-nordestinos
Do Rádio e Televisão
Grandes comunicadores
Que exploram  nossas dores
E só ilude o nosso irmão
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Sempre que nosso FORRÓ
Começa a aparecer,
Sempre encontram SOLUÇÃO
Pra nos calar e nos conter
De Goiás, Bahia, ou Pará
Surgem de todo lugar
Só pra nos desmerecer
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Convido os Irmãos Brasileiros
De todas as Raças e Culturas
Os verdadeiros Patriotas
Contrários a essa loucura:
Que ouçam nosso lamento
E vejam nosso sofrimento
Sob esta Infame Ditadura
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Clamo aos Conterrânos famosos
Os Melhores situados
Não se esqueçam do meu povo
Carente e abandonado
O nosso Povo lutador
Longe do Artista e do Doutor
Penando aqui neste Estado.
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Triste do Artista forrozeiro
Que renega sua Cultura.
Renega suas Origens
Em um mal que não tem cura.
Vende sua Alma Cultural
Ao Popularismo mundial
Na mais ingrata aventura
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Triste daquele Conterrâno
Que renega sua Raíz.
E se embriaga na Política
Tornando-se um infeliz
Defendendo Os Ideais
Dos que roubam nossa paz
Com seus Laços e Ardíz
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Muitos Conterrânos ricos
Só pensam em sua vaidades
Em seus pequenos impérios
De fama e prosperidade
Por preconceito ou ambição
Esquece o Povo do Sertão
E nossas necessidades
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Tem outros que são omissos
São individualistas
Só preocupam-se com as Bandas
Os seus Shows, e seus Artistas
Seu Ideal é ganhar dinheiro
Inconsequentes forrozeiros
Sem bandeira e egoístas
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Ainda bem que há Conterrânos
Que tem Ideologia
Mesmo buscando Riqueza
Não se vende, ou se desvia
São a nossa Esperança
De Luta, de Liderança
Em quem a gente confia
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Se cada Artista famoso,
Empresário, Comerciante
Tomasse a iniciativa
De ajudar nosso Imigrante
Se unindo a Trabalhadores,
Idealistas e Doutores,
A  todo Povo Retirante.
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Mesmo que uma vez ao mês
Houvesse uma Reunião
Muita coisa ia ser decidida
Pelo bem do nosso Irmão
Na Cultura, no social
No Forró, no Tradicional
Essa é a nossa Missão
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Somos todos desunidos
Entre nós não há IRMANDADE
Conterraneos  sem Direção
Em todos os bairros e cidades
Nosso povo sempre a sofrer
Sem ter a quem recorrer
Em sua necessidade
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Se todos continuarem
Olhando seu próprio umbigo
No individualismo cégo,
Só preocupando-se consigo
Os Conterrâneos irão sofrer
Longe da Mídia e do Poder
Sem conhecer nosso Inimigo
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Mas mesmo com tantas Barreiras
E com tanto Impedimento
Falta de FRATERNIDADE
Só desunião e sofrimento,
Provamos o quanto somos fortes
Dignos até a morte !
..Só com Deus no Pensamento
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O Conterrâno é valente
Na luta contra a Exclusão
Nunca enjeita trabalho
Vive de calo na mão
Na rua, empresa, ou em casa
Carregador no Ceasa
Operário em construção
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Montamos Casas do Norte
Empresas, Bandas, Salão,
Rádios pra tocar Forró
Programas na Televisão
Pelo Brasil a conquistar
O verdadeiro lugar
Do meu Povo do Sertão
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Somos um Povo honrado
De grande Dignidade
De Poetas e Vaqueiros
Sementes da Cristandade
Trabalhadores de brio
Construtores do Brasil
E da nossa Brasilidade
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Em todos os bairros e cidades
Sempre há um Tecladista
Tocando em bares, salões
Nossos heróicos artistas
Pelo pão, pelo respeito
Derrubando o preconceito
Dos Forrozeiros paulistas
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Grandes Artistas do Forró
Se instalaram na cidade,
Pra mostrar ao Povo Paulista
Nossa Musicalidade
Nordestinos, Mineiros do Sertão
Vencem a Discriminação
Com  Suor e Qualidade
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Nosso FORRÓ PÉ-DE-SERRA
Guarda a nossa Tradição
Das Raízes do Forró
Xaxado, xote, baião
No tocar do Sanfoneiro
Trianguleiro, Zabumbeiro,
As Raízes do Sertão
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E criamos Raízes em São Paulo
Mas com a firme vontade
De voltarmos qualquer dia
Para nossas lindas cidades
Norte de Minas, ou Nordeste
Sertão, Cariri, Agreste.
Lá estão nossas saudades
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E quando bate a saudade,
Do São João, da Vaquejada,
Da Roça, do Interior,
Nossa Família Amada.
De orelhão ou celular
Da rua ou do nosso lar
A distancia é encurtada
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Mas sempre fica um Vazio
Que não se pode preencher
Um sentimento dividido
Um querer, e não querer...
Entre a vontade de ficar,
Ou o desejo de voltar,
Qual irá prevalecer?
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O Conterrano Ama São Paulo
Sendo bom, sendo ruim
Mas não há dinheiro que pague
Esta saudade sem fim
Muitos dos que vem pra cá
Nunca vão se acostumar
Como aconteceu a mim.
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Só Deus sabe o sofrimento
Que nesta terra já passei
Com minha Esposa e Filhos.
Meu Deus, quanto chorei !
Tão longe do meu Sertão
Sem rever mais o meu Chão
E tudo que lá deixei
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Importa mesmo que um dia
A gente possa voltar
Por nossa Conterranidade
Como um Dever a nos guiar
Uma Peregrinação na vida
A nossa Terra Prometida:
O Sertão, que é o Nosso Lar
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Deixo aqui esta mensagem
Á Sociedade Paulista.
Políticos e Empresários,
Jornalistas e Artistas:
“Nosso povo está cansado
De ser excluído, desrespeitado
Em seu sistema exclusivista.
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Tudo que exigimos é:
Igualdade e Respeito,
Direito à Cidadania:
Um Constitucional Direito.
Vamos todos dar as mãos
Na luta contra a Exclusão,
A Segregação e o Preconceito.”
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E à meu POVO CONTERRANO
Clamo este DESAFIO:
“Erga-se contra a Injustiça
Com indignação e brio,
Com a força do CONTERRANISMO,
Brasilidade e Patriotismo
Construiremos um Novo Brasil.

LUCIO-X  O POETA DO CONTERRANISMO